Na medida que o tempo passava, as coisas só pioravam. Eu sentia que aquele não era o meu lugar. Eu não me sentia bem. Na verdade, eu já não conseguia me sentir bem em lugar algum. Eu tentava não demonstrar que aquelas coisas me afetavam, então, eu engolia o choro e colocava um sorriso no rosto, fingindo estar tudo bem. Mas quando eu chegava em casa, me trancava no banheiro e deixava cair as lágrimas que eu havia segurado a tarde inteira. Ninguém consegue ser forte o tempo todo. Sempre tem algum momento em que precisamos desabar e derramar toda a dor e sofrimento em forma de lágrimas.
Eu me olhava no espelho e não gostava do que o mesmo refletia. Eu passei a me sentir um horror. Sim, eu passei a acreditar neles. Eu coloquei na minha cabeça que eu não era digna de ser amada e que eu tinha que viver sozinha, isolada de tudo e de todos. E foi aí que eu decidi me afastar completamente. Eu me afastei até dos meu pais. Eles sempre perguntavam se estava tudo bem comigo. E eu dizia que sim. Mas eles não faziam ideia do tanto de dor e sofrimento que eu escondia atrás de um sorriso. Eu não sabia como contar a eles o que eu estava sentindo e o que vinha acontecendo, então, resolvi guardar tudo aqui dentro.
Seria tão bom se a gente pudesse despejar toda a dor dentro de um potinho e jogá-la no mar. Deixar a onda levar. Para bem longe de onde poderíamos estar...
Eu não aguentava mais viver assim. Isso estava me matando aos poucos. A cada dia. Eu me olhava no espelho e perguntava a mim mesma, o que havia de errado comigo.
Eu comecei a pensar na morte. Comecei a pensar que a morte era a solução para todos os meus problemas. Ora, ninguém sentiria minha falta. Ninguém se importa. Para que viver? Para ser infeliz, chorar todos os dias e me esconder atrás de sorrisos falsos e depois explodir por causa disso tudo? Ora, eu não pedi para nascer.
Eu não aguentava mais chorar. Os meus olhos ardiam e as lágrimas já não eram mais o suficiente para de alguma forma eu me sentir aliviada. Foi aí, que surgiu o primeiro corte. Depois o segundo. O terceiro. O quarto... e assim sucessivamente. E com o passar do tempo, isso também deixou de ser o suficiente para matar a minha tristeza. Eu não sentia mais dor no corpo ao fazer minhas séries de automutilações. Eu sentia dor no coração. Na alma. Como havia sentido nos últimos meses ou até mais forte do que antes.
E foi aí, que eu vi que nada mais era suficiente para acabar com a minha dor. Exceto, a morte. O meu corpo precisava de um descanso. Os meus olhos precisavam fechar-se e descansar de tantas lágrimas derramadas. Aquilo já havia passado dos limites e já não havia mais espaço para a dor. Eu estava explodindo por dentro. Eu deveria ser mais forte. Eu deveria suportar todas aquelas coisas. Mas eu não conseguia. Parei na frente do espelho e disse para mim mesma que me odiava.
Eu peguei a lâmina que estava em cima da pia e passei a na lateral do meu pulso. E dessa vez, não foi um corte como os outros. Eu quis causar um estrago maior. Um estrago que me deixasse aliviada de tudo. Vi pingos de sangue espalhados pelo chão enquanto uma parte do meu pulso estava aberto. Pensei ‘’Acabou!’’.
Se eu sentir dor? Não, eu não senti. Por que a dor que estava aqui dentro de mim era muito mais forte do que a dor de qualquer corte.
Ainda lembro de ter visto o meu pai desesperado me colocando em teus braços, mas, depois disso, não vi mais nada.
Acordei no hospital com alguns enfermeiros ao meu redor, olhei para o meu braço e só aí me dei conta do tanto de cicatrizes que eu tinha. E agora, mais uma. Só que esta, sendo costurada.
Eles diziam que por um milagre eu consegui escapar. O famoso ‘’nasceu de novo’’.
Fechei os olhos novamente. Eu só queria dormir e por alguns segundos esquecer aquilo tudo ou lembrar de algum momento feliz. Mas eu não sabia mais qual a sensação que a felicidade era capaz de transmitir